O menino que amava uma porca
No caminho até em casa foi arrastando o animal, que não queria ir de jeito nenhum. Umbigo chegou em casa e amarrou a porca do lado de fora do barraco, antes de ir correndo para dentro falar com a mãe. Queria muito o porco. Levou a mãe para vê-lo. Ela levantou aquele corpo grande de porco junto com outro filho pendurado no peito.
Quando viu o animal, que tentava se livrar da corda improvisada por Umbigo, a mãe debochou:
- Minino, isso ai é mulé. É porca!
Umbigo ficou olhando o bicho. Tentava descobrir como a mãe sabia que era fêmea só de olhar. Pensou que se a porca era fêmea e tinha sido achada no lixo, seu nome seria “Titica”. A mãe voltou a falar:
- Pode ficar, mas você arranja comida para essa porca. Não vai tirar nada aqui de casa.
O menino apenas balançou a cabeça, saindo correndo em seguida. Estava ansioso para conseguir comida para seu bicho. Tentou o dia inteiro conseguir restos de comida para a porca, porém Umbigo nem percebeu que ele mesmo não tinha comido o dia todo. Quando finalmente conseguiu restos em um bar sujo, salivou ao sentir o cheiro dos restos de comida. Com a sacola na mão, Umbigo se segurou até chegar ao barraco.
Titica tinha desistido de tentar fugir. Estava dormindo, pegando o sol do fim da tarde. Quando Umbigo chegou ao seu lado, ela se levantou de um pulo. Começou a colocar o focinho na sacola de comida, sacola que o menino prontamente abriu para que o bicho pudesse se alimentar. Umbigo tentou achar um lugar na sacola para sua própria mão, mas no final, a porca tinha comido quase tudo e deixado o menino com fome. Ele nem se importou, estava feliz com seu primeiro bicho de estimação.
Assim que obteve confiança em Titica, Umbigo soltou a porca. Titica agora acompanhava Umbigo até o lixão. Acostumada com os restos de comida, a porca não comia do lixo, mas esperava pacientemente até que o menino conseguisse alimento.
Na véspera de natal, voltou feliz para casa. Tinha conseguido muita comida para Titica. Quando chegou em casa, sua mãe gritava com o pai. O pai de Umbigo tinha sido demitido. Não haveria o gostoso frango da mãe no Natal. Os irmãos e irmãs de Umbigo apenas observavam, encolhidos em um canto.
Umbigo viu o rosto do pai. Estava inchado pela bebida e pelo choro. O menino então pediu para a mãe, com o coração apertado:
- Mãe, vamos comer a Titica. Ela é a nossa janta de Natal.
Na ceia, Umbigo comeu apenas arroz. Deixou a companheira para a família. Achou que seria deslealdade demais comer de sua amiga.