Tuesday, January 18, 2011

O monstro de papel

Dormir nunca foi problema, mas naquela noite os problemas estavam lhe atormentando.

O quarto nunca era totalmente escuro, culpa da cortina transparente. Virou para o outro lado de forma tão agressiva que um pedaço do lençol saiu de debaixo do colchão, desarrumando a cama já bagunçada.

Quando já estava naquele sono, que não é bem um sono, apenas um prelúdio da primeira fase do sono, ouviu um ruído vindo do chão ao lado. O ruído era semelhante a um papel sendo amassado. Devia ser o ventilador movimentando um papel qualquer que deixara no chão, sim, com certeza era isso.

Virou para o outro lado retirando a outra ponta do lençol de debaixo do colchão. O barulho voltou e ele resolveu olhar, agora que já estava virado para o lado do chão. Era uma bolinha de papel; certamente o ventilador a movimentou e aquela era a causa do barulho. Fechou os olhos tentando voltar ao seu prelúdio, porém o ruído de papel amassado voltou. Sem pensar, deu uma espiada rápida ao lado e viu que a bola de papel havia inflado. "O ventilador pode fazer isso?", se questionou logo em seguida.

Fechou os olhos com todas as suas forças. O ruído agora era constante. Apavorado, pegou o travesseiro ao lado e com os olhos fechados golpeou todos os lugares que encontrou ao seu redor. Silêncio. Ao abrir lentamente os olhos, viu o papel amassado no chão ao lado.

Tornou a fechar os olhos. O ruído voltou, mais incessante e furioso. Pensou que deveria parar de agir como louco e pensar de forma racional. Abriu os olhos, pegou o papel e o levou até a cozinha. Ligou o fogo em uma das bocas e aproximou o papel, quando as chamas começaram, foi até a pia da cozinha. Segurou o papel enquanto pôde, até sobrar uma ponta entre os dedos, que largou na pia.

Voltou para a cama. Arrumou as pontas do lençol que haviam se desprendido e deitou tranquilo. Agora poderia dormir.

p.s.: Depois que eu vi que é muito parecido com o conto O cobertor do Bukowski. Espero
que minha "homenagem" tenha ficado razoável.