Wednesday, December 07, 2011

Doença

Toda manhã furo no dedo. 170. Meta de amanhã:160, depois de
amanhã:150, e assim por diante. Sempre imaginei a morte
como algo rápido; mesmo para as pessoas doentes que sabem que vão morrer em algum momento a morte as atingiria de cheio e ligeiro.

Mudei de ideia, a morte é algo lento. Todos os dias furando o
meu dedo a sensação é de morte lenta e dolorosa. Meu filho de três anos
me pergunta todos os dias se dói. "Claro que não, é uma picadinha de
mosquito", uma desculpa clássica para esconder o meu trágico fim da
criança amnésica.

Quem sabe amanhã eu faça o teste no trabalho e a mulher gorda do meu
lado perceba que o fim dela será mais rápido que o meu. Ou
eu me jogue em frente ao ônibus da linha 410 e apresse o meu fim
para algo menos trágico que furar meu dedo todos os dias. Ou
o que é mais provável e similar às outras alternativas: eu chegue a 100 e coma panetone seco no natal.