Monday, August 16, 2010

A gorda

    Em uma cidade qualquer, nem grande e nem pequena, da qual eu não me recordo o nome, existia uma rua residencial com prédios de até quatro andares e algumas casas. Esta rua era bem arborizada e agradável.

   Há alguns anos, mudou-se para lá uma mãe com sua filha. Elas mudaram-se para o único prédio de três andares da rua. Devido ao barulho anormal para um sábado, alguns moradores do prédio de três andares foram ver a mudança e aproveitaram para cumprimentar as novas vizinhas. A mãe era uma mulher normal e com cara de mãe. Era bem extrovertida e falou com todos os vizinhos que apareceram. A criança, no entanto, falava nada e não respondia às perguntas que lhe eram feitas. Era também muito magra e seus olhos pareciam ocupar metade do seu rosto. A mãe não parecia ficar constrangida com a falta de resposta da filha e falava logo em seguida: “Ela é quietinha assim mesmo, não gosta de falar”.

    Com o passar do tempo, a mãe foi se misturando na comunidade. Não demorou para que os vizinhos começassem a comentar uns com os outros sobre o peculiar hábito alimentar da criança. A menina parecia comer tudo que lhe davam e às vezes o que não lhe davam. Quanto mais o tempo passava, mais a vizinhança falava sobre como a menina não tinha um limite no estômago. Mesmo comendo tanto, aquela menina conservava uma magreza excessiva. Ao contrário da filha, a mãe começou a engordar, ainda que, a princípio, ninguém tenha notado o seu ganho de peso.

    As vizinhas tentavam dar um toque sutil na mãe falando coisas como: ‘eu vou em uma academia muito boa, por que não vamos juntas?’ ou ‘minha filha está fazendo uma dieta maravilhosa, já perdeu muito peso’. A mãe começou a se sentir mal por isso, porque ela sabia que comia cada vez menos e se exercitava cada vez mais. Os toques sutis continuaram, irritando profundamente a mãe, pois ela sabia o esforço que fazia para não continuar engordando.

   Certo dia, a mãe não conseguiu mais sair de casa e resolveu que começaria a trabalhar de lá, pelo computador. Fazia as compras pelo telefone e não saía mais. A criança continuava indo à escola e sua aparência esquelética fez com que a diretora resolvesse visitar a mãe da menina.

    Quando viu a mãe, a diretora ficou indignada com seu estado, uma vez que a menina continuava esquelética. Fez um discurso que levou a pobre mãe a chorar até a noite.

   Os vizinhos percebiam que as compras chegavam em uma quantidade cada vez maior. Como a mãe engordava a uma taxa assustadora, começaram a achar que a comida era para a mãe. Não tinham como saber que apenas uma maçã era para a mãe e o resto para a menina.

   Sempre que a menina ia ou voltava da escola lhe questionavam a respeito da sua mãe. Ela apenas os olhava com seus olhos gigantes e voltava para seu caminho.

   Um dia os vizinhos perceberam que a menina não foi para a escola. No fim da tarde, vendo que da casa da mãe e da filha não saia nenhum barulho, uma vizinha mais enxerida resolveu bater à porta. Bateu e bateu, nada aconteceu. Os outros vizinhos olhavam assustados sem saber o que fazer. Um deles sugeriu que chamassem a polícia. Foi feita uma votação e as pessoas que queriam chamar a polícia eram a maioria.

     Quando a policia chegou, a vizinha que bateu primeiro à porta se adiantou e inteirou os policias da situação. Eles logo arrombaram a porta da sala. Quando chegaram ao quarto da mãe, se depararam com um grande cadáver na cama. Os policias e os vizinhos foram procurar a criança e encontraram a menina, agora com aparência saudável, sentada na cama. Perguntaram à menina se ela estava bem e ela falou pela primeira vez diante dos vizinhos e policiais:

   - Tô sem fome.

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